A importância do acompanhamento familiar durante o tratamento psiquiátrico

27 de janeiro de 2023

O mês de Janeiro é marcado pela campanha “Janeiro Branco”, criada em 2014, pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão. O Janeiro Branco é dedicado aos cuidados com a saúde mental, reforçando a importância da reflexão e conscientização sobre os transtornos mentais e os tratamentos que podem ajudar a melhorar a saúde mental das pessoas.

Os transtornos mentais têm se tornado, cada vez mais, um problema de saúde pública. Problemas como ansiedade e depressão estão cada vez mais presentes na sociedade, principalmente no contexto pós-pandemia, onde a população passou por um longo período de isolamento, com perdas de familiares e entes queridos.

Existem diversos transtornos mentais, com apresentações diferentes. Eles geralmente são caracterizados por uma combinação de pensamentos, percepções, emoções e comportamento anormais, que também podem afetar as relações com outras pessoas.

Entre os transtornos mentais, estão a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses, demência, deficiência intelectual e transtornos de desenvolvimento, incluindo o autismo. No Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 86% da população sofre com algum transtorno mental.

Diante disso, o acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico são fundamentais para garantir a saúde mental e física das pessoas que sofrem com algum transtorno, influenciando na sua qualidade de vida e nas suas relações com amigos e familiares, peças essenciais para o sucesso do tratamento de um transtorno mental.

O que a ciência diz?

Por muito tempo, os familiares estiveram afastados dos cuidados das pessoas com transtornos mentais. Com a reforma psiquiátrica, novas medidas privilegiam o tratamento de pessoas com transtornos mentais na sociedade e a família passou a ter grandes responsabilidades nesse processo.

Esse fato foi comprovado em um estudo realizado pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da Universidade de São Paulo, que identificou que a recuperação e tratamento de pessoas que passaram por um primeiro episódio psicótico (PEP), pode ter melhores resultados quando esse paciente recebe o apoio da família.

O primeiro episódio psicótico (PEP) é caracterizado pela primeira internação do paciente em um serviço de saúde, apresentando um ou mais dos sintomas que definem a psicose, como delírios, alucinações, comportamentos desorganizados ou contraditórios.

O episódio pode ser o anúncio ou o início de um transtorno mental crônico como, por exemplo, a esquizofrenia. Em geral, ocorre entre 15 e 25 anos, durante a adolescência e no início da idade adulta, mas 40% dos casos acontecem entre os 15 e 18 anos de idade. O primeiro episódio psicótico, assim como qualquer outro tipo de transtorno mental, pode ser tratado e esse tratamento, é beneficiado pela ajuda familiar e de entes queridos.

Como a família pode ajudar nos tratamentos psiquiátricos?

Cuidar de uma pessoa com transtorno mental é um grande desafio para muitas famílias, envolve sentimentos como insegurança, medo, raiva, despreparo diante de um acontecimento imprevisto e os próprios preconceitos em relação à condição do indivíduo.

No entanto, o conceito de família não se restringe apenas a um grupo de pessoas com laços sanguíneos, abrange também as ligações emocionais, culturais, as experiências, vivências e laços afetivos entre as pessoas, que proporcionam a capacidade para que esse grupo de pessoas se ajuste a novas situações, mudanças e adversidades.

Nesse sentido, quase sempre, a família é o principal grupo que fornece acolhimento e apoio para as pessoas que sofrem com algum transtorno mental. O apoio dos familiares, aliado ao tratamento psiquiátrico e psicoterapêutico, pode representar um cuidado mais humanizado para as pessoas com transtornos mentais e também um melhor entendimento por parte da família de todo o amplo contexto do transtorno enfrentado.

O apoio familiar no tratamento psiquiátrico pode se dar de variados modos, entre eles:

  • Identificando sinais de sofrimento mental;
  • Incentivando a busca, ou mesmo buscando, acompanhamento junto a profissionais de saúde;
  • Ajudando no deslocamento e estando presente em consultas;
  • Supervisionando comportamentos de risco;
  • Auxiliando no uso de medicamentos psicotrópicos
  • Ter paciência no convívio;
  • Compreender a doença, por leituras, pesquisas, entre outros meios;
  • Compreender que o indivíduo não escolheu estar ou ser assim;
  • Saber ouvir e dar atenção necessária;
  • Demonstrar que compreende este momento difícil;
  • Respeitar cada momento do paciente, incentivando atividades, mesmo na recusa.

A família ainda tem o papel de fornecer uma rede de apoio e proteção ao membro com transtorno mental, proporcionando a confiança necessária para possibilitar a sua adaptação na sociedade e ajudá-lo a entender que seu transtorno não precisa ser uma limitação de vida.

Na grande maioria dos casos, com o tratamento adequado, realizado com o psiquiatra e o psicoterapeuta, o paciente consegue ter uma vida normal, podendo estudar, trabalhar, constituir família e contribuir para sociedade como um cidadão, tendo deveres e seus direitos respeitados.

Se você ou um membro da sua família apresenta algum tipo de transtorno mental, busque ajuda médica de um psiquiatra para realizar o diagnóstico e tratamento adequado, que ajude a garantir uma melhor qualidade de vida.

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